21 de fev. de 2017

BATHORY - Hammerheart


1990
Black Mark Productions
Importado


Tracklist:

1. Shores in Flames
2. Valhalla
3. Baptised in Fire and Ice
4. Father to Son
5. Song to Hall Up High
6. Home of Once Brave
7. One Rode to Asa Bay
8. Outro


Banda:


Quorthon - Vocais, guitarras, efeitos
Kothaar - Baixo
Vvornth - Bateria, percussão


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Alguns discos, mesmo sem alcançarem a superexposição dos grandes nomes do mainstream, sempre ficarão marcados na mente e corações de muitos fãs de Metal. Alguns são clássicos obrigatórios para a maior e melhor compreensão de como certos estilos de Metal surgiram, e sob qual base de influências evoluíram.

E se existe um disco que pode ser aferido como “marco zero” do que chamamos comumente hoje de Viking Metal, sem dúvidas, esse é “Hammerheart”, quinto disco do grupo sueco BATHORY.

Em “Hammerheart”, enfim, o processo evolutivo em termos musicais que se iniciou em “Under the Sign of the Black Mark” atinge seu ápice. A primeira coisa a saltar os olhos é a total ausência de vocais rasgados, já que Quorthon (vocalista/guitarrista/líder da banda) preferiu usar sua voz normal, o uso amplo de melodias e partes mais profundas nas guitarras (tanto que em “Valhalla”, se percebe, existem linhas de cordas de um violão, uma guitarra base e outra guitarra distorcida em consonância, além de efeitos especiais que simulam o som de chifres soando em um funeral Viking), uma base rítmica sólida e com boa dose de técnica, mas mantendo um ritmo pesado em todas as canções. Fora isso, toda a estética Black Metal de antes dá lugar à temática Viking, abordando pontos interessantes e até então desconhecidos do grande público. Se o grupo abandonou o Metal extremo por um lado, o BATHORY mostrou que sua criatividade era infinita, criando outro gênero totalmente novo (me perdoem os fãs de THOR e MANOWAR, mas nenhuma delas fez algo do tipo).

A produção musical de Boss é ótima, com uma sonoridade forte, pesada e intensa, mantendo aquela atmosfera Viking que nos faz sentir os ventos gelados em nossos rostos. Gravado no Heavenshore Studio (que era apenas uma garagem na época), esse disco tinha tudo para dar errado: o solo desnivelado, a falta de iluminação, os vocais gravados no banheiro, a falta de isolamento sonoro que causava o constante medo que o som de um avião ou do cortador de grama do vizinho entrasse nas gravações, tudo isso e muito mais pode ser lido no encarte de “Blood on Ice”, que narra as dificuldades da época.


O design artístico é de Julia Schechner, que é bem simples: o encarte é preto com as letras, mas a arte central com uma velha oração cristã:

“A furore Nornannorum
Libera nos Domine
Summa pia gratia
Nostra conservando
Corpora ett custodita
De gente fera
Normannica nos
Libera quae nostra
Vastat deus regna”

Que seria algo como:

“Do furor dos nórdicos
Libera-nos ò deus
Vossa suprema e santa graça
Proteja-nos e aos nossos
Livra-nos
Deus
Da selvagem raça
Dos Nórdicos
Que destroem nossos reinos”

Representando o medo dos ataques Vikings, como o primeiro, em 793, no mosteiro de Lindisfarne, que causou grane comoção entre os reinos cristãos.

A capa, por sua vez, é a bela pintura de Sir Frank Dicksee, “The Funeral of a Viking”, que se encontra na Galeria de arte de Manchester, na Inglaterra.

A beleza estética musical de “Hammerheart” não tem precedentes, nasce mesmo da criatividade de Quorthon, que conforme está claro no encarte de “Blood On Ice”, sentia a necessidade de desvincular o nome da banda do satanismo que ele mesmo não acreditava. Musicalmente, como dito acima, “Under the Sign of the Black Mark” já mostra sinais de mudanças na estética musical (como se percebe em “Call from the Grave” e “Enter the Eternal Fire”), que foram expandidas em “Blood Fire Death” (onde temas fora do satanismo aparecem em “A Fine Day to Die”, e na própria “Blood Fire Death”, e o lado musical começa a ficar mais elaborado, e essas mesmas duas faixas já mostram isso, inclusive os vocais da segunda). Mas a ruptura é tão radical que os temas Vikings das letras ganharam um escopo totalmente voltado a eles. Se um não iniciado ouvir “Bathory”, e na sequência “Hammerheart”, acreditará que são grupos distintos. Ao mesmo tempo, as canções ficam mais longas e cheias de toques de refinamento musical, uma necessidade do grupo se expressar melhor, como passagens de guitarras limpas, violões, efeitos de teclados, e efeitos especiais que aclimatam o fã. A riqueza musical é berrante.

“Shores in Flames” já mostra efeitos especiais de um barco navegando em sua introdução em contraste com sons de guitarras e vocais limpos, aclimatando o ouvinte para o peso dos riffs climáticos da canção, a base rítmica esbanjando peso compassado e mais lento, bem como de seus corais e passagens melódicas. Na maravilhosa “Valhalla”, como dito acima, linhas de violão, guitarras distorcidas e limpas se alternam com sons de chifres fúnebres, a representação de um funeral Viking, refrão marcante, backing vocals climáticos e raios caindo, como se saudando o defunto em sua entrada no salão dos guerreiros, o Valhalla. Partes de bateria dão o início de “Baptised in Fire and Ice”, com riffs sujos, baixo pesado e técnico, narrando o batismo de um recém-nascido sobre as chamas, e depois limpo com neve, com belos backing vocals no refrão. Na sequência, a tocante e peso-pesado “Father to Son”, outra com efeitos especiais no início, para logo uma mistura explosiva de riffs pesado e backing vocals começar uma canção que narra a emoção na relação pai e filho. Em “Song to Hall Up High”, uma semi-balada de violão e voz, onde as melodias são lindas, uma prece ao Pai de Todos, Odin. Ela serve como introdução para “Home of Once Brave”, com um ritmo mediano que realmente nos lembra do andamento das batidas de tambor de um navio a remos, e aqui, e as melodias ajudam a aclimatar a descrição da terra natal dos vikings, do quanto eles amavam seu próprio país. E, fechando, uma das grandes obras-primas da banda: “One Rode to Asa Bay”, com uma introdução misteriosa, para então violões darem início a uma canção de melodias densas e melancólicas, cujo andamento realmente ajuda a música a ganhar peso e muita melancolia, pois narra brevemente o processo de conversão ao cristianismo ao qual os Vikings foram submetidos. É de cortar o coração dos que possuem um pé no continente europeu, e cujo sangue transparece esta mesma tristeza, mesmo porque não foi um processo rápido ou simples. A cristianização da Dinamarca levou 50 anos (devido aos acordos dos jarls com países cristãos, o país permitiu a existência de igrejas nele, e o resto, mesmo com conflitos, não foi difícil); a da Noruega 80 anos (com a conversão de Olaf Tryggvason, ou Olaf I, Rei da Noruega, em 995), e a da Suécia mais de 200 anos (muito cheio de conflitos, até que a crença cristã foi conseguindo ser assimilada e ir tomando lugar dos velhos ritos).

Até hoje, mesmo depois de quase 27 anos de lançado (originalmente, o disco foi lançado em 16 de Abril de 1990), “Hammerheart” continua soando com o mesmo frescor, peso e ainda atual.

Todos saúdem Ace Börje "Quorthon" Forsberg!

Todos saúdem o BATHORY!

“Ventos do Norte, levem minha canção para os céus...
Para o Salão da Glória no Paraíso...
Então os portais me saudarão, se abrindo...
Quando tiver chegado meu tempo de morrer...”


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